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Mostrando postagens de fevereiro, 2009

Eu amo você

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Eu amo, amo muito. Amo os setenta anos de minha mãe, mulher guerreira e seus cabelos cor de laranja no leito de morte. Amo despudoradamente os olhos infantis de meu pai viajando indefinidamente em nuvens imaginárias. Amo sim os sábios fantasmas de minha bela irmã, as ausências do forte irmão caçula e as reticências do irmão artista reticente. Amo não, adoro, a minha terra alagoana, esturricada e estuprada sistematicamente pelo poder. Amo, amo, cada vez mais o envelhecimento luminoso de meu homem ao meu lado. Amo os meus amigos pelos simples fato de verterem a pureza bruta dos que escolhem com quem estar. Amo a minha gata dormindo, miando, lanchando pelo. Amo demais, venero a dureza pura de meu filho e seu coração explodindo em paixões. Amo todos os seres vivos, pois deles me alimento, amo a praça, a folha e o vento, meu vento que corre, corre, corre. Amo você porque me lê e também tem seus amores. Amo, não temo, amo, amo e amo cada vez mais o meu direito de amar.

Cida e a televisão

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O conto Cida e a televisão foi o líder da rebelião da gaveta verde e o primeiro a obter êxito em sua fuga. Atendendo a pedidos de familiares, concorreu e está classificado entre os 10 finalistas do concurso Contos do Rio 2006. Oficialmente anistiado com sua publicação no caderno Prosa & Verso, do jornal O Globo, em 29/07/06. Abrir um crediário é negócio complicado. Só por necessidade. A televisão, de imagem preta tremida e branca fora-de-foco, foi sendo invadida por um exército de fantasmas cinzas e, assim, se anunciava o fim. Assistir novela das oito com fantasma é uma coisa mas os jogos da Copa é tortura! Já pensou ver os canarinhos cinzas levantarem a taça preta? Uma TV nova seria um sonho, sonho que virou aflição quando, em plena final da Taça Guanabara, o Fogão ganhando de virada, a desgraçada vai fechando os olhinhos até ficar apenas uma linha triste de luz, último suspiro. Morreu de vez. Foi coisa de urgência abrir o crediário complicado. Sorte a patroa ser gente boa na hora

Escrever direito

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Pensar e não escrever é inafiançável Visto que tortura é crime hediondo. Escrever expulsa e mais aprisiona Pois se trata de pena de banimento. Só divulgar liberta Isto posto, transito em julgado, Sem direito a recurso, Voa a palavra solta.

A aula na esteira de malas

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Sábado, oito horas de manhã de Sol, avisando: - Vou chegar a pino!! Enquanto a maioria dos nativos dirige-se em hordas às praias, cinqüenta almas acomodam-se nas cadeiras canhoto-que-se-ferre para a aula-revisão-simulado de língua portuguesa. Nos olhares vagos no teto, no chão, no ar quente e em cada testa está escrito: Por que eu matei aquela aula da tia Samaritana na quarta série? Para trocar figurinha ou para jogar queimado? Nunca saberei...Seria possível desvendar os mistérios da língua-mãe nas próximas cinco horas? - Não desiste não! Não desiste não! O mestre negão entrou na sala, cheio de vontade. Só na entrada, tirou metade da turma do limbo e o restante prometia. Exercício vai, explicação vem, pergunta vai, resposta vem. Sempre tem na turma uma mala que sabe tudo, antes mesmo das demais babas reticentes entenderem a pergunta, a encomenda empacotada responde tudo certo. Uma vaga já é dela. A auto-estima já no dedão, escorre para o cantinho da unha encravada. Vai ser de lascar. A