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Mostrando postagens de setembro, 2010

Dia de Dorinha

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Tia Liata não sai de casa sem maquiagem nem sem a bolsinha de tricô com Dorinha, apelido carinhoso de seu .22. Herdara do falecido marido que carregou a pequena arma na meia do coturno durante brilhante carreira de vigilante. Tia Liata aprendera a limpar, carregar e atirar nos passeios pela Floresta da Tijuca. Todo dia cinco do mês a senhorinha atravessa a alça da bolsa no corpo e sai com a mão encaixada em Dorinha para receber a pensão. Hoje, na saída do Banco, ligadíssima no movimento, manja o moleque encostado na porta atendendo o celular e olhando para ela. Ela faz que vai para a esquerda e o moleque atrás, ela volta e o encara, ele desvia o olhar e retorna grudando sombra nas costas de tia Liata. Ela aperta Dorinha sentindo a respiração ofegante dele. Ela pensa se seria capaz de atirar em alguém. Nunca matara nada maior do que baratas. Nem rato. Morre de pena daqueles olhinhos inocentes. Mas se eu não me defender quem vai me guardar? É só eu e Deus. Se me le

A felicidade é um bloquinho de batalha naval

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De todas as cenas exaustivamente exibidas do ataque aos EUA em 11/09/01, a que mais me impressiona é a cara de paisagem do presidente Bush ao receber a notícia através de um singelo cochicho de um assessor quando visitava uma creche americana. Fiquei intrigada e a curiosidade vem me consumindo os neurônios nos últimos nove anos. Sobre efeito de que droga ele estaria para fazer aquela cara? Se ele tivesse cheirado nuvens é certo que daria um pulo da cadeira. Se um tapa num baseado fosse sua opção, desconfio de que um longo bocejo seria uma reação esperada. Já se estivesse bêbado a gargalhada seria inevitável. Analisei várias possibilidades toxicológicas e o enigma só se avolumou. Nada se adequava àquela expressão. Uma grande amiga, usuária fiel de fluoxetina, a pílula da felicidade, contou-me ter sido demitida sumariamente após vinte e cinco anos de trabalho na mesma empresa como quem relata a visita à padaria para comprar pão francês. Outro usuário,

Sem, só

- Censo Demográfico 2010, boa-tarde. - Quer o quê, cara-pálida? - Senhor, conforme amplamente divulgado e cartaz afixado no quadro de avisos de seu condomínio, tomarei apenas minutos de seu precioso tempo com algumas perguntas importantes para efetuar grande retrato em extensão e profundidade da população brasileira. - Vaza, mané. - Desculpe-me, Senhor, responder ao Censo é obrigatório por lei. - Entra, senta aí e desembucha. - Obrigado, Senhor. Quantos moram aqui? Idade? Renda? Grau de instrução? Imóvel próprio ou alugado? Sua cor? - Eu, trinta velinhas, mil merrecas, ensino médio aos trancos, cafofo alugado, adoro vermelho. - Sua cor da pele. - Ah, não tá vendo? Sou neguinha. - Muito obrigado. É só. Não disse que era rápido? - Como assim? Só isso? - Por sorteio este imóvel teve escolhido o questionário simplificado. - Você acha que eu não sou importante o suficiente para dar opinião sobre a sociedade, o futuro do país e minha cor predileta? Sobre o meu gat