A garota do telhado
Chegava da escola arrancando o uniforme e vestia somente um shortinho de algodão. Passava na cozinha, enchia um prato fundo de feijão com arroz e farinha. Comia sentada no chão fazendo bolinhos com as mãos, ladeada por gatos que destrinchavam sardinhas sobre um jornal.
Terminada a refeição, divertia-se deixando que os gatos lambessem suas mãos. Corria para o quintal, alçava o muro e ganhava os telhados. Ali, era a rainha dos gatos, sempre com um séquito de rabudos no encalço.
Conhecia os gatunos pelos nomes por ela mesma batizados. Brincava, cochilava e embolava com os felinos pelas telhas do quarteirão entre a Rua Uberaba e o Largo do Verdun.
Os vizinhos já a conheciam, os cachorros também; nem por isso aceitavam aquela gata magrela em seus muros: latiam, jogavam água, praguejavam. Ela? Fugia como um gato, mas ria; coisa que os companheiros não sabiam fazer.
O tempo foi crescendo, o short apertando, os telhados subindo, a noite chegando, as regras nascendo e os gatos morrendo dentro dela, um por um.
Comentários
e lembre-se de não cortar as unhas do gato, viu...
sammy
beijo
Os gatos ainda estão muito vivos dentro da personagem.
Ainda bem...
Bjs, Marília
muito bom passear por suas palavras.
bj, Patricia