Amor, enfim
Aos 86 anos ainda sente no vento o perfume do amado. Fala dos gostos do homem e, feliz, anuncia os 57 anos de casada. Que homem maravilhoso! Declara. Lembra da mão máscula e gentil segurando-lhe a nuca, deitando-a levemente antes das núpcias. As flores de jasmim roubadas e arrumadas na lapela. Os beijos, os partos, a casa, as festas, a jura eterna e a luz da vela. Vê o sorriso dele no filho e a determinação na filha. Cultiva esse amor todos os minutos em que a natureza lhe reserva de lucidez. Pede um peixe ao molho de camarão como o amado fez há 50 anos naquelas últimas férias de verão. Leva a mão inchada e trêmula aos lábios, acaricia-os como se seus dedos não fossem os próprios a digitar a pele murcha. Olha para o céu e geme baixinho: Estou aqui, amor, me leva...
Comentários
Nunca havia visto um texto seu tão lírico. Você sempre nos surpreendendo...
Beijos.
Bem haja quem assim tanto ama, tanto amou ...