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Mostrando postagens de julho, 2009

Sobre a solidão das rosas

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Marlene mora sozinha e trabalha na biblioteca desde sempre. Acorda tarde porque dorme e labuta até o fim da noite. E também porque não tem um bichinho para alimentar ou para brincar ou para ficar olhando. Todo sábado vai à feira comprar víveres e rosas vermelhas que ninguém mais, além dela mesma, verá sobre a mesa da sala. Todas as noites senta-se à mesa admirando as pétalas ao som de jazz regado à vinho tinto seco. Escreve num caderno florido suas impressões sobre o mundo que nunca serão lidas. Compra bens que jamais serão aproveitados por ela ou por herdeiro algum. Limpa a casa somente para que o vento suje. No trabalho conheceu Anselmo, frequentador diário da biblioteca. Conversam pouco, só sobre os livros a serem consultados. Com o tempo Marlene foi desenvolvendo um carinho especial por aquele homem sério, contido e elegante que sempre trazia uma rosa vermelha na lapela. Num dia de ousadia, comentou que amava rosas vermelhas e que sempre as tinha em casa.