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Mostrando postagens de julho, 2010

Zé, o porteiro de Copacabana

Embora muitos jurem que os porteiros de Copacabana foram produzidos em série misturando barro, xiquexique e água de açude nos cafundós do nordeste, Zé sabe ser único. Não pela origem humilde, a viagem no pau-de-arara e o misere inicial na cidade maravilhosa porque isso tudo é de praxe. Zé é o Zé porque sorri o tempo todo e não baixa os olhos diante de ninguém. E nunca negou serviço. Conhece o povo que entra e sai do prédio pelo nome, pelas sortes e azares de cada um. Mantém a timidez lapidada em discrição tão característica do retirante nordestino. A vida lhe foi digna e, com tempo para aposentadoria, casa ampla com laje no Pavão-Pavãozinho, filhos criados e passado apaziguado, Zé deu entrada no INSS para receber o benefício e descansar. A vista escureceu quando o atendente declarou que ele não tinha contribuição alguma e como não tinha carteira de trabalho nem contra-cheque para comprovar a história, a situação fica complicada. Enverg

À esquerda ou à direita?

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- Mô, estamos próximos. Olha a placa do Queijão alí. - Já é a terceira placa de queijo na estrada. - Então. É isso que está no mapa: entrar na 3ª placa depois do Queijão. - À esquerda ou à direita? - Mas que mania, Marcelo, de complicar tudo! De que lado está a placa? Não é à esquerda? Então entra à esquerda, né? - Sueli, não tô vendo nem estrada... - Pronto. Lá vem você de novo. É por isso que a gente precisa rever a nossa relação. Você não leva a sério nada do que eu falo. Confiança zero. Trata-me como se eu fosse uma idiota. - Ok. Entrando à esquerda. - Não adianta disfarçar e mudar de assunto. Sei que você só concordou em entrar à esquerda porque eu questionei a falta de diálogo no nosso casamento. Pensa que eu não percebi quando, mesmo eu lendo o mapa, você com olho comprido, conferindo tudo, duvidando da minha capacidade? Minha mãe sempre disse que você não era um homem confiável... - Eu? - E cheio de meias palavras. É um tal de futebol com os amigos prá

Reciclando o futuro deste país

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- Compro alumínio, compro metal, panela velha, máquina de lavar velha, micro-ondas velho, ferro de... - Aqui, moço! - Tem o que prá gente aí dona? - Um computador slim com processador 2.2 GHz + 2 GB de memória DDR2 800 MHz + disco rígido de 160 GB + monitor 17 polegadas + teclado + mouse sem fio. - Sei... O resultado dessa soma toda que a senhora fez aí é igual a vinte pratas. - O quê? R$ 20,00? Só isso? - Funciona? - Claro que não. Mas pode ser consertado. É que comprei um novo e não tenho espaço para este. - Hum... Vinte e cinco e não se fala mais nisso. - Absurdo! Tem um monte de peças novas aí dentro. - Então a senhora sai pela rua anunciando suas peças novas. - Nada feito. Prefiro doar para quem precisa a aceitar ser extorquida. - A senhora é quem sabe...Compro alumínio, compro metal... Revoltada, colocou o computador num carrinho de feira e doou para a primeira escola pública que encontrou no caminho aos cuidados do porteiro. Pensou orgulhosa que, com certeza, a escola tem oficin