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Mostrando postagens de outubro, 2014

Dívida histórica

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Quem olhava para o meu roçado esturricado, as galinhas carecas e Vaidosa, a vaca leiteira, com as costelas assanhadas e as tetas secas, pensava logo que eu não cuidava da posse. Mas Deus é testemunha que não havia galo que, ao acordar, não me encontrasse lutando no roçado. Por mais que cavasse não brotava água nem para amolecer a terra. Os meninos sem condução ou disposição na barriga para ir até a escola por um mingau ralo, iam ficando por ali mesmo catando mandacaru e xique-xique. A mulher toda manhã vagava duas léguas com o mais velho para catar água na poça sobrada do açude. A vida cobrava mais do que dava e nem o Sol, que nunca faltou, se compadecia do nosso miserê. Um dia uns homens de sapatos pretos em carro de roda larga chegaram medindo telhado, colocando calha e cano até uma caixona enfiada no chão. Tampada que nem uma chaleira guardava a escuridão. Aí veio os meses da chuva e a caixa encheu. Os homens trouxeram médicos de fala esquisita, mas de boa mão. Um ônibu

Sou nordestina, de pai e mãe.

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                   Sou nordestina, de pai e mãe. Não me interessa minha origem portuguesa, espanhola, holandesa, indígena ou africana. Sou brasileira e nordestina e isto me basta. Nasci em Maceió, Alagoas e, pasmem, não sou idiota. Amo e conheço minha terra como quem toma um caldo-de-cana ruim pela manhã sabendo que à noite todo o potencial de meu povo pode surpreender.            Cresci em uma família de trabalhadores e pensadores que se preocupam mais com a dignidade, alimentação e educação dos seus do que com a rotação da Terra e a opinião alheia.          Divertidas, se não fossem trágicas, as reações xenófobas nas redes sócias pregando o extermínio do povo nordestino, são de uma virulência tão inócua que remetem à “Revolta da Vacina” no início do século passado ou à penca racista imputada a Monteiro Lobato. Aos ataques infantis seria covardia qualquer revide. De muitos legítimos defeitos de meu povo, um que ele não tem vocação é para a covardia.          Não precisamos