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Mostrando postagens de maio, 2010

Figurinha repetida

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- Abre esta porta, Rufinho, ou eu vou arrombar! - Pô, mãe...tô quase dormindo... - Não enrola. Sei que você está na internet falando besteira. Já entrei no chat, sou a Rosinha-só-amor e você é o Rufão-furador. - Porra, mãe, respeita a minha privacidade. - Privacidade é o cacete, você só tem treze anos. Abre a porta agora ou eu cancelo a internet. - Chamou, mamãe? - Desliga. Agora. - Deixa só eu terminar esse papo... - Está marcando encontro com quem? - Com o Gustavão-do-álbum-da-Copa prá trocar figurinha. - É pedófilo. - Para, mãe, que saco. Tô marcando na Praça de Alimentação do Shopping, às quatro da tarde. Deixa de neura. - Eu vou contigo. - É ruim de eu pagar esse mico. - Eu pago o dobro para pegar esse pervertido. E vou levar a polícia. - Ih...tô fora. Flagrante preparado, polícia disfarçada na escuta, mãe resoluta esperando. Quatro, quatro e quinze e vinte e trinta e nada. A mãe percebe uma mulher na mesa ao lado com cara de ó

Focinho úmido

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Maristela é sozinha. Tem um cachorro cego e aleijado que leva para passear todas as manhãs; no colo. Entre uma visita ao veterinário e uma parada para conversar sobre os últimos resultados dos exames do bichano, Maristela reclama da vida, do portão, do bairro e de qualquer coisa ou humano. Já encontrei muita gente assim. O que me assusta. Não pelo presente e sim pela possibilidade do futuro. A questão é: o que faz com que pessoas saudáveis, inteligentes e cultas, em um momento xis da vida, adquiram uma nuvenzinha negra sobre a cabeça? Como uma mulher amante dos animais, da família e das plantas torna-se um ser tão negativo? Tenho muito medo do outro lado. Talvez por nunca ter tido a consciência do mal. Sempre acreditei que a bondade existe e ninguém é irrecuperável. Romântico, eu sei, mas sou assim. Contrariando todas as previsões, ao cruzar com o olhar fuzilante de Maristela tenho vontade de abraçá-la, chamar para um chá, conversar por horas, fazer carinho. Pode se

Atenção! Última chamada para embarque

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- Alberto, estou grávida. - Como assim, Marlene? - Grávida, buchuda, prenha, pejada, gestante... - Eu? - Não, eu. Você vai ser o pai. Não dá para trocar. - Como isso aconteceu? - Não lembra ou quer que eu conte a história da sementinha? - Não brinca com essas coisas, Marlene. Você sabe que eu não quero essa responsabilidade ainda. - Ainda? Com 45 anos na cara? Vai esperar para ser pai-avô para apostar corrida de bengala com o filho? Ou ficar brocha e precisar de doação de esperma dos amigos? - Não quero ter filhos. - Não sabia. A gente pode tirar, então. Aí nós passamos os próximos vinte anos pensando como seria o moleque ou a moleca. Depois, entediados, adotamos um abandonado para ter com quem brincar e deixar os bens acumulados sem serventia. - Não é uma má ideia. - Também acho. Podemos adotar um dia. Quem sabe? - Quantos meses? - Dois. - Na sua idade gravidez é perigosa. - Depois dos 40 tudo é mais perigoso. Até caminhada dá dor na lombar e beber ág