Atenção! Última chamada para embarque



- Alberto, estou grávida.

- Como assim, Marlene?

- Grávida, buchuda, prenha, pejada, gestante...

- Eu?

- Não, eu. Você vai ser o pai. Não dá para trocar.

- Como isso aconteceu?

- Não lembra ou quer que eu conte a história da sementinha?

- Não brinca com essas coisas, Marlene. Você sabe que eu não quero essa responsabilidade ainda.

- Ainda? Com 45 anos na cara? Vai esperar para ser pai-avô para apostar corrida de bengala com o filho? Ou ficar brocha e precisar de doação de esperma dos amigos?

- Não quero ter filhos.

- Não sabia. A gente pode tirar, então. Aí nós passamos os próximos vinte anos pensando como seria o moleque ou a moleca. Depois, entediados, adotamos um abandonado para ter com quem brincar e deixar os bens acumulados sem serventia.

- Não é uma má ideia.

- Também acho. Podemos adotar um dia. Quem sabe?

- Quantos meses?

- Dois.

- Na sua idade gravidez é perigosa.

- Depois dos 40 tudo é mais perigoso. Até caminhada dá dor na lombar e beber água pode afogar. Aborto então...

- Marlene...

- E se quiser ter filho comigo é agora: última chamada do relógio biológico.

- Você está me pressionando.

- Eu? Claro que não, Alberto. Só estou expondo os fatos.

- É, mas se for macho eu escolho o nome! A decisão é minha e ponto final.

- E se for fêmea vai se chamar Maria Vitória.

- Nome horroroso. Parece nome de desodorante... Não vou permitir!

- Alberto...

- Marlene...

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