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Mostrando postagens de janeiro, 2013

O ano do ovo

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         Berta encarou a tradicional lista de ansiedades do novo ano pregada na porta da geladeira: 1.    PARAR DE FUMAR 2.    DETONAR CACARECOS 3.    SER FLEXÍVEL 4.    PERDER CINCO QUILOS 5.     ABANDONAR A INTERNET 6.    NÃO LER MAIS HORÓSCOPO 7.    COLAR TACOS SOLTOS. O primeiro item há vinte anos bate ponto na lista, conquistou status de líder absoluto dos objetivos.  Cruel e cascudo, humilha Berta todos os anos e sempre volta para tirar onda com a cara dela. Por doze meses exige, cobra, lembra, enche o saco. Não vai mais tolerar toda essa opressão. Está expulso da lista. O segundo envolve grande operação de administração e logística. Quantas canetas, tesouras, penduricalhos, carregadores de celular, lembrancinhas lindas e inúteis, potes de sorvete, panos de chão, brincos, colares, dicionários, relógios, botões e imãs de geladeira precisamos numa casa? Pensando bem... Todos! Risca logo da lista e não se fala mais nisso. Berta passou a vida toda sendo cham

Nada ao acaso

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         Apressado pela Rua das Laranjeiras devora um joelho de padaria. Pensa ouvir um arfar nas costas. Olha para trás e nada vê. Continua ouvindo e andando e vez em quando olha para trás. Nada. Para no sinal da Rua Pinheiro Machado e sente o contato úmido na canela. Um vira-lata baba seu tênis. Vaza! Grita enojado. O cão para, senta e encara com a língua pendurada. Saco. Vai pra casa, cara, você está me confundindo com outro humano. Olha só: vou atravessar a rua agora. Não vem não, fica aí, é perigoso; você entendeu? O cão atravessa junto. Chegam ao laboratório para pegar resultado de exame. Entra ele, o cão é barrado pelo segurança: xô sarna! Melhor assim. Pega o resultado, rasga o envelope. Uma linha impressa e dois segundos são suficientes para minar seu futuro. Faltam pernas, anoitece, senta gelado na calçada. Pensa nas coisas a fazer, no que jamais faria e, principalmente, no que jamais deveria ter feito. Deita os braços nos joelhos. Chora para o chão. Levanta o rosto para