UNHAS MARCANDO O COURO
Não conseguia entender a teoria
aplicada no PowerPoint durante a reunião no escritório. O café que ela servia rivalizava
com o escurinho da sala e as piscadas das imagens. Na saída o Sr. Douglas
tentou escambar um beijo bêbado de Viagra no elevador em troca de um Ray-Ban de
hastes douradas de lentes espelhadas que recebera por ser o vendedor do ano de
1989. Na rua ele ofereceu carona com as calças duras e o hálito seco. Ela olhou
para os ônibus lotados pensando na estrada Grajaú-Jacarepaguá e o quanto vem
adiando aquela cirurgia de varizes. Sentou no Corsa Sedan do Sr. Douglas
segurando a bolsa no colo com as unhas marcando o couro. Ele falando do tempo o
tempo todo, ela ouvindo a música do lado de fora, a música que a cidade canta todos
os dias na hora em que todo mundo quer ir para casa ao mesmo tempo. As janelas
e os postes sendo levados pelo vento possante do Corsa do Sr. Douglas. Foi
apagando aos poucos e quando acordou o Sr. Douglas já estava se limpando. Ela
ficou com o Ray-Ban…