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Mostrando postagens de dezembro, 2008

O sofá do Barreto

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Barreto ganhou um sofá usado do hotel onde trabalha: cinco lugares, estofamento de couro preto curtido e manchado. Uma belezura. Chamou o cunhado e o vizinho do caminhão, acertou umas cervejas para depois do carreto e partiram os três para pegar o presente do patrão. Aos “ais” carregaram o sofá da recepção do hotel até o caminhão. Mas sabiam da odisséia que estava por vir. Chegando ao conjunto habitacional, daqueles com jeitão de pombal, Barreto não precisou estudar engenharia para perceber que o trambolho não caberia no elevador. Passou no bar e convocou Zé das Couves e Pirulito para a empreitada via escada. E quem disse que o sofá dava curva? Só se fosse dobrável, o que não era o caso. Agora era uma questão de honra. A sala limpa, os amigos zoando, a criançada e a patroa na janela esperando o gigante. Foi juntando gente. Apareceu uma corda e amarraram o monstro para ser içado até a janela do 3º andar. Em baixo, Zé das Couves e Pirulito administravam a corda-guia dentro da capaci

A deusa do amendoim

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Não tinha dó. Vinha de shortinho e top prá lá e prá cá. Os marmanjos coçavam as carecas numa pausa instantânea para que ela passasse toda sua opulência juvenil por entre as vítimas. Oferecia amendoim e, naquela mesa, sempre vendia no mínimo três. Ouvia todo tipo de piadinha e convites. Mas dar, que é bom, só um sorriso tímido e o troco. A maioria dos boêmios se conformava com o agradecimento da pequena, menos Luisinho, o contador. Não só de números como também de histórias improváveis. Passou a flertar com a menina que, apertando os olhos, poderia ser a sua neta. O contador não pensava em outra coisa além dos botões em flor por baixo do top. Deu para persegui-la de carro, oferecer carona e o número do telefone; sempre recusado. Meses de labuta se passaram sem que a garota cedesse nem um olhar mais tenro. Desesperado, ofereceu dinheiro, casa, comida e o que mais a deusa desejasse. Até que, enfim, acendeu uma luz perguntando se ele cuidaria de seus irmãos e da mamãe também. Luisinho r

Hora do arrocho

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- Ai! - Desculpa aí. - Não está vendo que não dá para passar... - Não quero passar. Só quero colocar o meu outro pé no chão. - Deu? - Brigada. - Ô comandante, liga o ar aí! - Está quebrado. - Abram as janelas se não eu tiro a roupa. Calor do cão! - Mas está chovendo. - Então abre o guarda-chuva. - Abre! Abre! Abre! - Vai descer! - O senhor trouxe um bote? - Não, mas não vou ficar nesse imprensado. Prefiro ser engolido pelo rio carioca. - Espera a água baixar um pouco, velho. - O trânsito está todo parado. Vou nadando e chego antes de vocês. - Mãe, quero fazer xixi. - Segura, moleque, que já está chegando. - Mãe, chegando onde se a gente está parado aqui há um tempão? - Cala a boca e não enche. - Abre a porta agora! Vou sair! - O senhor é quem sabe... - Nossa... está puxando muito... - Volta! Volta! Volta! - É, vou esperar mais um pouquinho. - Tudo bem aí, filho? - Agora já estou aliviado. - Fazer o que, né? - Vamos levar um sambinha? - Samba! Samba! Samba! - “Assassinaram o camarão!” -

Interagindo na área de risco

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- Mãe, estou morrendo de fome... - Deixa que eu faço um macarrão prá você, filho. - Então acende o fósforo. - Eu não. Vai explodir tudo. - Claro que não. Não está vendo que o gás está fechado. - Vazando. Sinto o cheiro. - Já botei sabão na borboleta do fogão e não borbulhou. - Continuo sentindo cheiro de gás. - Fui eu, e daí? - Olha lá, heim... - Pronto, abri o gás. - Lá vai... - Viu? Acendeu tranqüilo. Agora bota a panela prá ferver. - Já botei. - Com água, não é mãe? - Claro, claro, peraí... - Cortou a cebola e o alho? - Eu não. Faca é perigoso. Tem um mix de temperos ótimo aqui. - Ih, mãe... Deixa que eu faço. - Tá bom. Eu fico com a louça. É mais seguro assim. - Olha a água. - Tô olhando. - Ferveu? - Há um tempão... - Por que não avisou? - Você não falou nada... - Tá legal, mãe. Bota o macarrão na água enquanto eu faço o molho de salsicha. - Cuidado, meu filho, a água pode respingar em você. - Deixa que eu ponho. Agora é só mexer de vez em quando. - Sinto cheiro de queimado. - É a