A deusa do amendoim



Não tinha dó. Vinha de shortinho e top prá lá e prá cá. Os marmanjos coçavam as carecas numa pausa instantânea para que ela passasse toda sua opulência juvenil por entre as vítimas. Oferecia amendoim e, naquela mesa, sempre vendia no mínimo três. Ouvia todo tipo de piadinha e convites. Mas dar, que é bom, só um sorriso tímido e o troco.
A maioria dos boêmios se conformava com o agradecimento da pequena, menos Luisinho, o contador. Não só de números como também de histórias improváveis. Passou a flertar com a menina que, apertando os olhos, poderia ser a sua neta.
O contador não pensava em outra coisa além dos botões em flor por baixo do top. Deu para persegui-la de carro, oferecer carona e o número do telefone; sempre recusado. Meses de labuta se passaram sem que a garota cedesse nem um olhar mais tenro. Desesperado, ofereceu dinheiro, casa, comida e o que mais a deusa desejasse. Até que, enfim, acendeu uma luz perguntando se ele cuidaria de seus irmãos e da mamãe também. Luisinho respondeu “ Claro, meu anjo, tudo que você quiser.” Já enrolando no dedo indicador um cacho dos cabelos da morena. A menina pediu que ele se encontrasse com ela na praça Tiradentes às dez da noite, sem falta.
O homem endoidou. Jurou amor eterno, beijou mão e saiu para se preparar para a grande noite. Reservou uma suíte num motel discreto e limpinho. Comprou uma garrafa de vinho tinto para amaciar a moça. O plano era simples: Deixar a piveta doidona, comê-la, dar uma nota de 50 reais a título de cala a boca, e devolvê-la para a praça Tiradentes.
O contador chegou na praça às 9h45min. Esperou com a cabeça cheia de idéias e posições poderosas. Ela apareceu com seu paço de garça e sorriu. Ele sentiu um arrepio e beijou-lhe o cangote. Foi a última cena que viu. Levou a primeira bordoada do irmão caçula bem no meio das costas. Caiu no chão e pediu clemência para o irmão mais velho, concedida essa em forma de um chute nos ovos. Bufou, fechou os olhos e esperou terminar o festival de sopapos vindos de todos os lados.
Luisinho? Nunca mais comeu amendoim.

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