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Mostrando postagens de abril, 2016
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            Antes do céu clarear, Tião beija a mulher e os filhos como se para sempre.  O caminho até a estação de trem não carece de luz, os pés cegos nunca erraram o caminho. Argamassa com tijolo sobrepõe-se às horas lentas de poeira. Os músculos desabam com o sol. Tião sobe no alto do esqueleto, senta na beira balançando os pés no ar enquanto as formiguinhas lá embaixo urgem. Sorri com o privilégio do pôr-do-sol. Pensa na mulher grávida lavando roupa no tanque e os filhos brincando na viela fétida; sem pôr-do-sol. Abre a garrafa de cachaça, oferta o “gole do Santo” ao vento e vira a danada em um único fôlego. As nuvens correm para a esquerda, enquanto a lua sobe as escadas pelos degraus iluminados das estrelas. Tião vê poesia em seus pensamentos e toda a dor cede. Dança na beirada do abismo como nunca antes. Gargalha sem medo para o céu e grita:          - Eu estou aqui!          A manchete do jornal mostrava o enorme engarrafamento gerado pelo corpo de um homem não identif
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                                O vulcão de farinha sobre a bancada recebe os ovos com delicadeza. Enquanto  mãos tornam aquele casamento indissolúvel, a água ferve aquecendo o ar da cozinha.  A massa é aberta no rolo de madeira e fica ali, deitada na mesa, descansando da relação intensa. Quando o azeite cobre o fundo da panela, os tomates mergulham despedaçados e se unem para borbulhar sentidos nos narizes vizinhos. Pronta para a faca, a massa se horizontaliza em faixas sobrepostas cada vem mais finas. Entrega-se à água salgada e, ao ser escorrida, anseia pelo êxtase. O brilho denso do molho invade os caminhos por entre seus corpos ondulados. O  queijo ralado chove para derreter-se em pedaços de felicidade. Por fim o manjericão, esse exibido, deita por cima de todo mundo. Está na mesa!
O último desafio do Entre Contos foi "fantasia". Costurei a minha fantasia para desfilar pela Mangueira. Singela homenagem: http://entrecontos.com/2016/03/05/os-nove-ceus-onkqwe/