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Mostrando postagens de novembro, 2011

Pipocas no asfalto

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Paulinho nasceu numa família como qualquer outra. O pai intelectual silencioso, a mãe orgulhosa da prole, o irmão mais velho lindo, estudioso, obediente. A irmã caçula, sempre doente e boba, recebia a atenção de todos; inofensiva, uma benção. Já o magro, pálido e ágil Paulinho honrava a fama de filho do meio, era o capeta encarnado. Frequentador eventual da escola mantinha ano após ano o boletim regularmente vermelho, os cadernos desbeiçados, rasurados e sem datas. Saía de casa com a mochila nas costas, uniforme engomado, cabelo penteado e sapatos dignos para voltar totalmente possuído pelas peladas de rua. Joelho esfolado, meias rasgadas, chiclete no cabelo, boca suja de paçoca e, no lugar do dever de casa, a bolsa cheia de bolas de gude e figurinhas conquistadas. A mãe, mulher espiritualizada, resignava-se aos desígnios de Deus, mais cedo ou mais tarde seu moleque tinhoso haveria de servir para alguma coisa. Numa intensa tarde Paulinho atravessou a rua destrambelhado atrás da bola