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Mostrando postagens de janeiro, 2011

O excluído

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- O que você tem, menino? Engoliu uma aranha? - Não, mãe. Preciso saber quando você e o pai vão se separar. - Ué? Não estamos pensando nisso. Nós nos amamos. De onde você tirou essa ideia? - Tô chateado com os coleguinhas da escola. É que os garotos ficam esfregando na minha cara que têm duas casas, dois pais, duas mães, um monte de avós...e eu aqui, nem um meio-irmão eu tenho. Não aguento mais tanta humilhação. - Tem seu lado bom. Pai, mãe, avós, brinquedos exclusivos só para você todo o fim de semana. - Saco. Decidi. Se vocês não se separarem eu me separo de vocês. - É mesmo? Com dez anos na fuça vai prá onde? - Prá casa do Igor. Lá ele tem até um terço de irmão, filho do segundo casamento da atual mulher do pai dele. Coisa fina. - Filho, o amor tem várias formas. Todas são certas. O importante é que você é amado e sempre será. - Tá bom. Você e o pai podem continuar juntos. Eu

Uma história qualquer sobre homens do bicho

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Seu Canastra apontou o jogo do bicho nas redondezas do bairro por mais de quarenta anos. Lá pelas tantas viuvou e deu para beber. No começo cerveja, no final qualquer biricutíco. No sorteio das 18 horas já trocava cachorro por cavalo e cobra por galo. Da contabilidade animal passou a tirar uns trocados para molhar a palavra. Quando Cordão de Ouro, dono do ponto, descobriu os desvios de Canastra, deu-lhe um pé na bunda como aviso prévio e, compadecido, deixou Canastra vivo à própria sorte. Sem salário, sem registro, sem teto, sem gosto, o homem aboletou-se com uma trouxa de roupa na praça e foi ficando. Se esperto, assumiria a própria sina. Desprovido dessa dádiva, achou por bem tirar satisfações com o antigo patrão. Tomou todas e plantou-se em frente ao restaurante do bicheiro à espera. Quando Corrente de Ouro saiu,Canastra interpelou e pediu, não ajuda e sim reconhecimento pelos anos de lealdade quase total, admitia. Reconhecido, o chefão garantiu que Canastra perdesse os dentes q

O primeiro amor

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- Bora, Pedrinho, matar a última aula ou a gente vai pegar uma fila imensa. - Tô indo, tô indo. - Trouxe a garrafa de álcool? - Não. Era a minha vez? - A gente compra no caminho. Vito, você tem quanto? E você Edu? - 0,80. - 0,15. - Caramba, só tenho 0,10. Dá. Feito. Não falei? Olha a fila na escada! - Não vai dar tempo até a hora do almoço. - Vai sim. É rapidinho, só tem moleque na fila. Talvez aquele velhote empaque na armação. - Ele tem tempo sobrando, a gente pede para passar na frente. - Abriu a cortina rosa. A fila tá andando. - Já tô até pronto. - Segura. - O próximo! Os rapazes vão pagar com o quê? - Chaveiro, Dona Gertrudes. - Caneta... - Eu vou pendurar prá próxima... - Esses estudantes...Deixa eu ver se o material está limpo e desimpedido. Tudo bem. Faz logo o serviço que a fila já está lá na rua. Vem com a mamãe, vem. Upa, upa neném!!! - Uhuuuu! Todo mundo feito? Agora correndo pro parque. - Joga esse álcool logo antes que seque. -