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Mostrando postagens de 2016

CAFÉ

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Café Antes de pensar o dia perguntei-me se haveria outra noite suficiente para alimentar todas as bocas estelares. A mudez solar sepultou todos os meus pensamentos óbvios na cova rasa da imensidão galáctica. Vácuo no corredor. Meteórico. Foda. Odeio o dia começar assim da mesma forma que terminou. A cafeteira me inferniza com questionamentos domésticos recheados de rotina maternal. Sofro as lamúrias depressivas das marés, como se não bastasse o que tenho que assistir inerte. Suporto o beijo do aroma do que odeio amar. Fé e mar. Café. Saudade do que nunca se é Foda. Odeio o dia começar assim da mesma forma. O movimento de rotação me embrulha o estômago e sucumbo ao tédio de goles homeopáticos de translação. Não há latitude suficiente para aplacar a longitude de minha desesperança com tantas certezas absolutas. Obtusas, contra ou pró. Sempre profundo. Mundo foda. Odeio o dia começar assim. Dou corda na engrenagem alimentando os ventos antes que a v

Hibisco para todos

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No último desafio do Entre Contos, com o tema "Retrô cemitérios", fiquei em 7º lugar com a singela visão de um menino muito engajado em suas teorias sobre vida e morte. Assim como meu filho  Ian C Angeli  na mais tenra idade, Jonas é capaz de emendar um raciocínio no outro sem perder a ternura jamais.  Todos os contos possuem comentários que foram feitos sem ninguém saber a autoria, usamos pseudônimos até o resultado; o que dá lastro ao desafio.  Não deixem de conferir os contos dos outros autores, principalmente o campeão "Mea Culpa" de  Daniel Reis  e "Belinha" de Anderson Henrique. Com vocês,  "Hibisco para todos": Hibisco para todos Há anos adquiri o hábito de passear nas alamedas do cemitério depois do almoço, lendo as lápides, imaginando a vida daquelas pessoas e sempre terminando meu passeio no túmulo 1672, quadra 9, lar definitivo de minha esposa, que pediu que eu  plantasse um pé de hibisco amarelo, hoje uma frondosa árvore flor

O gato, o pinguim e um brinde.

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Este conto participou do Desafio de Terror Recanto das Letras (DTRL28). Não entendo de literatura de terror, sendo a técnica extremamente difícil para mim; mas prestigiei o desafio com um conto-crônica do cotidiano. Isto é, ao meu ver, o verdadeiro terror: O gato, o pinguim e um brinde.          Por mais bêbado que Onofre se esforce, não tem como não ver e odiar a plaquinha ridícula pendurada na porta: “Lar doce lar”. Prometera aos próprios colhões um dia matar Zelda com essa placa. Bater tanto naquela cabeça oca até explodir como um ovo no micro-ondas. Já estava até vendo o sangue respingando nas cortinas floridas, no tapete sempre branco e no maldito pinguim, todo dia o encarando quando abre a geladeira. Pensou o quanto aquele bibelô encaixaria como uma luva na goela do gato de nome escroto: Feliz. Riu com a ideia da cena, arrancou a placa e socou a porta.   -    Quero mijar, porra! Porta filha da puta cheia de tranca, como se nesta merda tivesse algo de valor. Acorda bruxa p

Crônica ao “presidento”

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Recebi três sugestões interessantíssimas. O mestre e escritor Eduardo Selga incentivou a continuação de minha crônica indignada com o golpe parlamentar. O líder João Gilberto Krepel, com quem tive a sorte de trabalhar, pediu que eu escrevesse uma crônica a favor de Temer. E, por último, fugindo da crônica política chata e apostando na fantasia, como sugeriu o sinceríssimo escritor Rich Dan, com vocês a   Crônica ao “presidento” A viagem de volta da China mexeu com os sensíveis órgãos internos do septuagenário presidente. A bílis lhe subia à língua, diante de qualquer pergunta, deixando suas palavras resumidas à enigmática expressão mesoclítica: Um pronunciamento à nação? “Fá-lo-ei amanhã”. Reunião com os ministros? “Fá-lo-ei amanhã”. Almoçar? “Fá-lo-ei amanhã”. Ir ao médico? “Fá-lo-ei amanhã”. Assim os dias foram passando sem que o empossado saísse da toca do Jaburu para assumir a Alvorada de uma nação ascendente. A imprensa solidária rasgava-se em imagens gravadas e entr

Crônica ao “presidento”

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Recebi três sugestões interessantíssimas. O mestre e escritor Eduardo Selga incentivou a continuação de minha crônica indignada com o golpe parlamentar. O líder João Gilberto Krepel, com quem tive a sorte de trabalhar, pediu que eu escrevesse uma crônica a favor de Temer. E, por último, fugindo da crônica política chata e apostando na fantasia, como sugeriu o sinceríssimo escritor Rich Dan, com vocês a   Crônica ao “presidento” A viagem de volta da China mexeu com os sensíveis órgãos internos do septuagenário presidente. A bílis lhe subia à língua, diante de qualquer pergunta, deixando suas palavras resumidas à enigmática expressão mesoclítica: Um pronunciamento à nação? “Fá-lo-ei amanhã”. Reunião com os ministros? “Fá-lo-ei amanhã”. Almoçar? “Fá-lo-ei amanhã”. Ir ao médico? “Fá-lo-ei amanhã”. Assim os dias foram passando sem que o empossado saísse da toca do Jaburu para assumir a Alvorada de uma nação ascendente. A imprensa solidária rasgava-se em imagens gravadas e entr

BAMBURRADO

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Com vocês, o conto "Bamburrado", que me classificou em 3º lugar na etapa final do 1º Game Literário do Portal da Escrita - Oficina de Criação: Tovico nasceu nos canaviais de Flexeiras e por lá ficou cortando cana até os trinta anos. A desesperança da seca, a mulher e os filhos minguando, a escravidão do senhor de engenho, empurraram o homem para a cidade. Na estrada ouviu o burburinho dos trabalhadores com trouxa de viagem penduradas nas costas. Estava brotando ouro na floresta para quem chegasse. Era dinheiro para nunca mais trabalhar para os outros. Viu o pau-de-arara cheio. Subiu com o caminhão já em movimento sabendo ser sua grande chance. Três dias depois, cruzando caatinga, sertão e mata fechada, chegou à morada do Perdido, que tudo dá para tudo tirar. Na primeira semana se atracou com um barranco para chamar de seu. Foi tirando dali alguma poeira de ouro e mandando o dinheiro para Salete e os meninos. Não esperava carta, ambos não conheciam as letras por par
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            Antes do céu clarear, Tião beija a mulher e os filhos como se para sempre.  O caminho até a estação de trem não carece de luz, os pés cegos nunca erraram o caminho. Argamassa com tijolo sobrepõe-se às horas lentas de poeira. Os músculos desabam com o sol. Tião sobe no alto do esqueleto, senta na beira balançando os pés no ar enquanto as formiguinhas lá embaixo urgem. Sorri com o privilégio do pôr-do-sol. Pensa na mulher grávida lavando roupa no tanque e os filhos brincando na viela fétida; sem pôr-do-sol. Abre a garrafa de cachaça, oferta o “gole do Santo” ao vento e vira a danada em um único fôlego. As nuvens correm para a esquerda, enquanto a lua sobe as escadas pelos degraus iluminados das estrelas. Tião vê poesia em seus pensamentos e toda a dor cede. Dança na beirada do abismo como nunca antes. Gargalha sem medo para o céu e grita:          - Eu estou aqui!          A manchete do jornal mostrava o enorme engarrafamento gerado pelo corpo de um homem não identif
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                                O vulcão de farinha sobre a bancada recebe os ovos com delicadeza. Enquanto  mãos tornam aquele casamento indissolúvel, a água ferve aquecendo o ar da cozinha.  A massa é aberta no rolo de madeira e fica ali, deitada na mesa, descansando da relação intensa. Quando o azeite cobre o fundo da panela, os tomates mergulham despedaçados e se unem para borbulhar sentidos nos narizes vizinhos. Pronta para a faca, a massa se horizontaliza em faixas sobrepostas cada vem mais finas. Entrega-se à água salgada e, ao ser escorrida, anseia pelo êxtase. O brilho denso do molho invade os caminhos por entre seus corpos ondulados. O  queijo ralado chove para derreter-se em pedaços de felicidade. Por fim o manjericão, esse exibido, deita por cima de todo mundo. Está na mesa!
O último desafio do Entre Contos foi "fantasia". Costurei a minha fantasia para desfilar pela Mangueira. Singela homenagem: http://entrecontos.com/2016/03/05/os-nove-ceus-onkqwe/

LEMBRANÇAS FUTURAS

Voltei!!! Entrei em 2016 no estilo bombeiro: derrubando a porta!  Esta foi minha melhor colocação nos Desafios EC. Sinto-me honrada em dividir o pódio com um tricampeão (  Fabio Baptista ) e um bicampeão ( Gustavo Castro Araujo ). 3º lugar com gostinho de primeiro. Com vocês, "Lembranças futuras": http://entrecontos.com/2015/12/09/lembrancas-futuras-kristin-lund/