CAFÉ
Café
Antes de pensar o dia perguntei-me se haveria outra noite
suficiente para alimentar todas as bocas estelares. A mudez solar sepultou
todos os meus pensamentos óbvios na cova rasa da imensidão galáctica.
Vácuo no corredor.
Meteórico.
Foda.
Odeio o dia começar assim da mesma forma que terminou.
A cafeteira me inferniza com questionamentos domésticos
recheados de rotina maternal. Sofro as lamúrias depressivas das marés, como se
não bastasse o que tenho que assistir inerte.
Suporto o beijo do aroma do que odeio amar.
Fé e mar.
Café.
Saudade do que nunca se é
Foda.
Odeio o dia começar assim da mesma forma.
O movimento de rotação me embrulha o estômago e sucumbo ao tédio
de goles homeopáticos de translação. Não há latitude suficiente para aplacar a
longitude de minha desesperança com tantas certezas absolutas. Obtusas, contra
ou pró.
Sempre profundo.
Mundo foda.
Odeio o dia começar assim.
Dou corda na engrenagem alimentando os ventos antes que a
violência indomável me jogue os indefesos ao colo. Não sei até quando
conseguirei fazer café assistindo essa máquina faminta devorar as próprias
entranhas. Precisaria ser mais do que o gelo sobre a febre para cumprir minha
missão.
Ficção.
Karma é foda.
Odeio o dia começar.
A cada movimento feroz procuro nos meridianos as causas
catastróficas de tão vil existência. Mas não há cálculo infinito possível de
resolver equação tão complexa quanto à inexatidão.
Insisto.
Esperança é foda.
Odeio o dia.
Cracas e mais cascas se acumulam sobre meus ombros varrendo minhas
forças para a vala do buraco negro. Lá de onde vim, mas nunca entrei. Vejo o
fogo consumindo a razão e os dedos das florestas me agarrando.
Deslizam e voam de mim.
Perda é foda.
Odeio.
Ser Terra,
Mas cá tenho café.
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