Sou nordestina, de pai e mãe.
Cresci
em uma família de trabalhadores e pensadores que se preocupam mais com a dignidade,
alimentação e educação dos seus do que com a rotação da Terra e a opinião
alheia.
Divertidas,
se não fossem trágicas, as reações xenófobas nas redes sócias pregando o
extermínio do povo nordestino, são de uma virulência tão inócua que remetem à “Revolta
da Vacina” no início do século passado ou à penca racista imputada a Monteiro
Lobato. Aos ataques infantis seria covardia qualquer revide. De muitos
legítimos defeitos de meu povo, um que ele não tem vocação é para a covardia.
Não
precisamos de julgamentos ou aceitação, muito menos de bandeiras defensoras do
“orgulho nordestino”. Cada nordestino se orgulha de seus próprios feitos e não
de fazer parte de uma região geográfica. Nunca ouvi falar de “orgulho de ser
sudestino” para os nascidos na região sudeste.
Forjamos
nossa cultura à custa de muita labuta e humildade; talvez mais humildade do que
o necessário. Ajudamos a construir o Brasil de hoje difundindo e multiplicando nossa arte pelos
vilarejos do país e nas grandes metrópoles. Pagamos um preço alto pelo direito
ao nosso sotaque, arte, som, opinião, valores e trejeitos: o discurso de ódio
travestido de liberdade de expressão.
Mesmo
o coco dormindo no pé e o caranguejo esperneando na lata, na minha casa só
entra confiança.
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