Cesário segue pela Rua dos Andradas pensando se o frio encolhe ou desperta os neurônios. Sabe que o ar inóspito empurra para debaixo das cobertas. Haja gana para comer as esquinas, placas e meios-fios gelados “à la minuta”. Anda por calçadões apinhados e vidros estilhaçados de agências bancárias. A noite anterior fora a mais longa dos últimos trinta anos e nunca estivera tão acordada. Chegaria a tempo? Na beira do Guaíba senta num banquinho improvisado vendo o povo encasacado tomando chimarrão e jogando conversa na correnteza. A garrafa térmica, o pote de erva e a cuia, que nos trópicos seria um trambolho, harmonizam-se perfeitamente entre tantos panos. É um povo bem estranho, sai de casa com sete graus molhando os ossos, todo embrulhado em várias camadas de roupas. Lá pelas tantas, com o sol subindo, vai retirando as cascas aos poucos, feito cebola. Vê-se na rua um monte de gente-varal, com casaco, suéter, cachecol, luva e gorro pendurados nos braços. Ninguém reclama, sabem qu...