À luz das begônias

O sol matinal formava um cone de luz nos tacos da sala retendo-se nas rodas da cadeira. Olhou os pés vestidos com aquelas meias de listras coloridas. Como chegou ali aquela alegria besta para pés mortos? Pensou. A beleza refletiu nos seus olhos e levantou a mão esquerda bêbada. Na janela um beija-flor planava sugando o peito da begônia. Creuza! Creuza olha que lindo o beija-flor na begônia que eu plantei naquela primavera! Da boca saiu o som sem o próprio reconhecimento. Ooooh...beiibei...lin...gôgô...mavééé...Ahhh! - Dona Lina, para de gritar. Os vizinhos vão reclamar. - Ai...a....lí!!! - Assim não dá. Vai acabar caindo da cadeira de novo. - Bei..bei....óóó... - Minha bonequinha está muito agitada hoje. Vou te dar um calmante para descansar. Abre a boquinha, toma, vai. - Nãnã....naa...ohhh...didi...otááá! - Para de me xingar, Dona Lina, coisa feia. Vou ter de enfiar na força. Assim. Ai! A senhora me mordeu, está ficando além de torta gagá? Não quer tomar o remédio...