Obra do tempo

Procurou a noite inteira por todos os bares e por toda a praia. Buscou atrás da orelha e no bolso da calça. Ao meio-dia, vasculhou a geladeira a procura do amado, talvez num pote lacrado. Como isso poderia ter acontecido? Estava com ele ali nas mãos e, em um segundo...Bulucutufe!!!Sumiu! Será que deixou de prestar atenção a algum detalhe? Refez todos os caminhos, todas as falas e gestos, vasculhando jardins, banheiros e elevadores. Tentara de menos ou de mais? Quem sabe dentro de outra bolsa ou outro casaco? Nada importante desaparece assim, deve estar por aqui, pertinho... Chorou muito, descabelou-se em noites insones e dias infindáveis. Depois de algum tempo, cansou de procurar e tocou a vida. Muitos anos depois, arrumando papéis velhos numa gostosa manhã bem acompanhada, encontrou o antigo namorado esquecido na segunda gaveta da estante da sala. Olhou longamente o objeto e se perguntou por que guardara aquilo por tanto tempo. Jogou fora e continuou a limpeza.