Terremoto na comunidade

Tem uma árvore na rua; inquestionavelmente rainha do pedaço. Mais de trinta metros de altura, tronco popozudo, pele caroquenta, raiz marrenta e copa turbinada. Abriga condomínio de múltiplos espécimes. Macacos tinhosos tiram onda quicando nos galhos. Bípedes alados celebram colorida suruba armando um barraco fenomenal. Borboletas azuis de sangue nobre circulam esnobes entre mariposas do baixo-árvore. À noite, os morcegos agarram-se aos frutos mais duros do que pedra cantando a conquista timidamente. Liquens, musgos, orquídeas, barbas-de-pau, barbas-de-velho e barbas de cílios, e de sobrancelha e de qualquer coisa que se pendure, se agarre, e se alimente de seus oferecidos galhos. A aranha amarela corre atrás do mosquito que procura uma poça limpinha na forquilha, e as formigas trabalham já que o tempo urge e a antipática da cigarra continua cantando o tempo todo. A raiz tentacular da árvore pula rasgando a calçada, seduzindo o canteiro, o meio-fio e onde sua rebeldia determinar. El...