Esporro
Não faça ouvido moco, moleque, com esse buraco da maldade. Não
te criei ouvindo canário para vomitar urubu depois de tirar os cueiros. Vou
cuspir no chão e, antes de secar, quero tua cara de cagão aqui. Não adianta dar
chilique nem botar tromba que eu não tenho medo de murrinha. Se apanhar na rua
de novo dos maloqueiros carunchos e borrar o pino da caçoleta saiba que o cinto
vai cantar na carcunda até fazer caminho de lacraia. O quê? Fala direito
estrupício! Come como são e fala como doente. Parece que tem miolo mole. Como é
que é? Vai retrucar empinando as ventas? Tua mãe não te deu educação? Tinhoso
como o cunhado e enxerido como a sogra. Em vez de tratar a roça pra empedrar os
braços fica aí de flozô com os livros até o cu da noite gastando candeeiro. Fica
assim, xôxo, com vudum de preguiça. Depois me vem com renda de trancoso e não
quer levar esporro. Nada de fliquiti e toma temência. Tenho dito. Pede a bença
e xispa!
- A bença, meu pai.
- Deus te abençoe, meu filho. Passo de jumento e olho de
carcará na estrada, um pé lá e outro cá, viu?
Comentários
no que diz respeito ao conceito, me é muito familiar, pois lá nos segredos de Napoli, usam-se os mesmos métodos...
grande Catá, como sempre! my
É isso mesmo. Um grande esporro e o cuidadoso amor de pai no final.
Vc é demais! Bjs, saudades de vc por aqui...
Saudades também. Talvez eu precise de um esporro.
Eu que tive a sorte de nunca receber de você um esporro servil, não aprendi a obedecer. Obrigada, pai.