Há 30 anos





         1985 foi um ano quente, muito quente. Os acontecimentos se empilharam formando uma torre colorida e desconexa como a geração da época. Fora as tragédias inevitáveis e evitáveis, foi um ano espetacular.
         Começamos o ano bem. O regime militar brasileiro foge pela porta dos fundos e dois ditadores falecem: Konstantin Chernenko e Emílio Garrastazu Médici.  Ocorrem eleições diretas para as prefeituras das capitais, das cidades litorâneas e de municípios "enquadrados" pela antiga Lei de Segurança Nacional no Brasil, em quase 20 anos. Surge no Brasil a primeira Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher em São Paulo. E o Prêmio Nobel da paz vai para médicos Internacionais pela prevenção da Guerra Nuclear.
         Michael Stuart Brown e Joseph Goldstein ganham o Nobel de medicina por elucidar  metabolismo do colesterol no organismo humano. O inquieto Claude Simon conquista o Nobel de Literatura enquanto o  oceanógrafo Robert Ballard encontra os destroços do navio britânico Titanic. E por lembrar cinema três filmes marcam para sempre a forma de ver a sociedade:  A Cor Púrpura de Steven Spielberg ,O Beijo da Mulher-Aranha, de Hector Babenco e Ran de Akira Kurosawa.
         No esporte começamos a ocupar as manhãs de domingo em companhia de Ayrton Senna, pole position com sua Lótus no GP de Mônaco de Fórmula 1 no dia 5 de maio.

         OEngenheiros do Hawaii fazem seu primeiro show no auditório da UFRGS e é formada a banda de hard rock, Guns and Roses. As duas bandas vieram a se apresentar no Rock in Rio em outras versões. A banda Legião Urbana lança seu primeiro disco, mas nunca se apresentou no festival  por ter como princípio não tocar em grandes festivais patrocinados por multinacionais. Na contramão cria uma legião de fãs.
         O novo Brasil assiste ao  primeiro Rock in Rio.  Bebe cerveja ruim, come pior ainda, mas respira música  ao vivo antes limitadas aos vinis empenados na vitrola. Chove quase todos os dias e a lama torna-se o protetor solar natural. Ninguém se importa.
         Na última semana de gestação uma bronzeada garota assiste aos prantos o Show de James Taylor. O bebê, até então chamado de Verão, ouve seu 1º Rock’ in Rio. No dia 20 ela deseja mais do que qualquer coisa na vida assistir Nina Hagen e YES. O pai da criança, outro garoto, está no festival trabalhando e curtindo muito. No começo da noite as contrações avisam ser necessário mudar os planos. A mãe se diverte com as intenções da filha em parir seu neto no festival. Já na maternidade ouve Nina Hagen latindo em alguma TV, a bolsa estoura e uma grande tempestade tropical sacode a cidade. Decide dar o nome de Nina se fêmea for. Se macho continuaria sendo Verão até ideia melhor.  
         Durante o YES, à 1:15 h do dia 21 de janeiro ocorreu o fato histórico mais importante dos últimos 30 anos, meu filho Ian Cunha Angeli nasceu. O planeta nunca mais foi o mesmo.




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