Branco


Durante o apagão mundial, quatro canetas foram encontradas estateladas na calçada; sem tampas. A vermelha foi levada para o fabricante em estado gravíssimo, vazando muito pelo fundo. A azul, desacordada e já apresentando coloração azul-bebê, recebeu massagem na carga e respiração ponta-a-ponta ali mesmo no meio-fio. Melhor sorte não teve a esferográfica preta que estrebuchava com metade de seu acrílico afundado. Naquele vexame todo, deixaram a verdinha por último. Afinal, era a única aparentemente sem ferimentos e consciente. Embora imóvel, acompanhava os trabalhos dos para-médicos com atenção vegetal. Quando as demais vítimas já haviam sido socorridas, a verde gritou: “Papel! Papel!”. Respirou fundo e, entupida, desmaiou.
Naquela fatídica noite, quem não conhecia lápis não escreveu. E o dia amanheceu em branco.

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