Bem cheirozinho



Meu nome é Bárbara e estou decidida a ter um jardim com ervas finas na janela do conjugado e não vou mais pagar rios de dinheiro por folhas impregnadas de agrotóxico. Antes de comprar sementes e vasos, farei um curso de jardinagem urbana num desses espaços zen, tipo vegan e coisa e tal. Dedicação exclusiva e cultura assimilada, agora mãos à obra. Terra, adubo, vasinho decorado, dez dias, quinze dias, vinte dias e nada das sementes germinarem. No vigésimo primeiro dia uma folhinha verde brotou. Vitória volátil: capim, lindo, mas capim aos montes devidamente devorados pelos gatos da casa. Insisti com a plantação por mais quatro tentativas. Só capim e gato feliz. Meditei profundamente observando a janela tomada por uma floresta de capim e a festa dos gatos embolando no vaso carinhosamente preparado para receber, manjericão italiano, hortelã, alecrim... Lembrei meu pai dizendo que a gente não pode desistir dos projetos no meio só por causa de algumas intempéries, se não vai ficando um monte de coisa incompleta pelo caminho e quando menos esperamos e mais precisamos, olhamos para trás e não vemos nada construído. Preocupante essa lembrança. Seria eu uma mulher insensata, volúvel, desconcentrada, impulsiva? Será que essa derrota denota o quanto eu preciso aprender na vida e que na verdade eu não mereço ter na minha janela ervinhas e sim capim? Dizem que a gente é o que planta, logo, sou um insignificante vaso de capim. Pensando melhor, vamos deixar de frescura porque esse capim até que é bem cheirozinho, a feira tem todas as ervas de que preciso e ponto final.

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