Momento gelo e carteado


Pitomba passa o dia todo, montado em seu triciclo, indo e vindo na ciclovia vendendo gelo para os barraqueiros da orla de Copacabana. Uniformizado só de bermuda e chinelos, segue feliz labuta sempre cantado funk com estribilho aos gritos de “Olha o gelo nas paradas!!! Tunk, tunk, tunk...”.

Numa viagem dessas atropelou uma senhorinha que caminhava em slow motion no meio da ciclovia. Foi velhinha para um lado, gelo para outro e Pitomba no asfalto. Juntou gente rapidinho, convertidas automaticamente em juízes de ocasião: “Velha maluca, quer morrer? Engole as agulhas de crochê!”, “Esses entregadores de gelo são todos homicidas em série!”. A ambulância do Corpo de Bombeiros resgatou os dois no mesmo carro. Foram batendo boca até o hospital. Sendo reservada aos paramédicos a função inglória de apartar as figuras possuídas de razão e hematomas.

Ninguém quebrou nada, mas ficaram bem ralados e com escoriações generalizadas. Ele perdeu o gelo, ela o carteado no Posto Seis. Na saída do hospital encontraram-se devidamente esparadrapados. Olharam-se longamente. Sorriram. Ele ajudou a chamar um táxi. Ela deu carona. Afinal, o dia estava lindo.

Comentários

Anônimo disse…
conto gostoso, Catá, perfeitamente copacabanico e carioca: alma, carne e osso da vida por essas bandas. beijo
my
Bacana Leia tbm meus textos. bjs. abs........

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