Vento carioca
Agenor adora ventania. Basta voar as primeiras folhas para que o apreciador da natureza se instale no banco da praça com seu caderninho. Espera, ansioso, as mulheres de saia serem surpreendidas pela golfada de ar vinda da praia. Para justificar hábito tão erudito, Agenor inventou de escrever uma tese: “A Calcinha Carioca – Cultura e Expressão Oculta”. Trabalho de campo árduo. Brancas de algodão enfiadas no rego, floridas, de bolinhas, calçolas emagrecedoras, transparentes, de moranguinhos, de elástico frouxo, de renda negra, de bichinhos, e até invisíveis que não deixam marcas. E muitas, muitas vermelhas de variados tecidos, tamanhos e idades.
Revelação científica: as calcinhas vermelhas são as campeãs sob as saias cariocas. Isso sem contar com as pagadas de cofrinho sob os jeans. Impressionado com a descoberta, Agenor tratou de registrar a tese na Biblioteca Nacional e partiu em busca de um editor visionário. Não pensava em outra coisa e não saia mais da praça buscando enriquecer seu trabalho. Esqueceu todas as outras funções, inclusive junto à patroa. Nem via mais a mulher ao lado da cama.
Ela cansou de esperar e partiu para o tudo-ou-nada. Um dia Agenor chegou a casa, depois de um extenuante dia de pesquisa na praça, e encontrou a mulher só de calcinha e sutiã meia-taça vermelhos, trepada num par de saltos-agulha, preparando o jantar. O homem, instantaneamente, perdeu o interesse pelo vento da praça.
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