O infinito de Pi



(p = 3,14159 26535 89793 23846 26433 83279 50288 41971 69399 3751)

Quem vê Pi contando aos palmos a distância entre uma árvore e outra, anotando números no braço e falando com suas equações, não imagina o engenheiro brilhante escondido dentro do terno roto e amarrado pela gravata sebenta. Quando a gula da esquizofrenia devorou-lhe o emprego, a família e a dignidade, passou a vagar pelas ruas medindo seu mundo e traduzindo-o em enigmáticos cálculos nas paredes da cidade.

Um entre milhões de malucos abandonados pelo Universo, Pi exibe seu tempo entre um pôr-do-sol e outro. Passeia sua massa cinzenta aprisionada no infinito por entre sinais de trânsito, sinais de olhos, sinais dos tempos inexatos, todos voltados para ele julgando-o. Busca interminável nos números a explicação para tanto abandono e fúria dos nunca pares mesmo que iguais.

Os dias sobrepõem as noites sem que ninguém perceba Pi sentado no banco da praça coberto de números. O olhar encontra o nada e nele voa açoitado pelo vento. As primeiras luzes da manhã encontra Pi translúcido até que transpareça completamente.

No verão seguinte um professor senta no banco para corrigir provas dos alunos. Ao lado de sua perna vê entalhado na madeira uma equação gigantesca. Por curiosidade do ofício anota em seu caderno. Em casa tenta desvendá-la sem sucesso. Certo de que estava diante de algo genial, dedica o resto de sua vida acadêmica a resolver o enigma. Já no leito de morte, ouvindo vozes, vertendo miasmas e mirando anjos com pincéis coloridos voando sobre um interminável quadro-negro, ofega a equação de sua vida dançando entre as nuvens até um raio gravar no quadro a resposta. O mestre sorri e suspira:

π > ∞

Comentários

Anônimo disse…
ahhhh agora sim!
Catá, agora estou te reconhecendo...
bjs
my
Ivo de Souza disse…
Se Pi é maior que infinito, coitado de Einstein. Ele não sabia o que estava para acontecer...

Abraços
Anônimo disse…
Ah... se 'Pi > Infinito'; meu pipi será que é apenas quilometricamente inmensurável? bjs
yk

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