Entre abutres





O que a faz chorar mora na eternidade das horas. Que entre pela porta agora, para que a tua essência abutre desabe pela sala e aquele livro que você lhe deu, e não leu, repouse estático sobre os pedaços de ti. Que, antes de questionar qualquer “que”, vislumbre uma fêmea complicando e existência dos olhares e o pôr-do-sol que se consome na estática retina das ondas. Vem e vai, entra e vem e vai; para. Até então não há verdade, só uma mulher planando sobre teus pesadelos. E esta mulher sabe quem você é e de onde veio. Esta mulher gera luz sobre o passado e pedra a humilhação com um sorriso. Suga esse ser que verte líquidos por todas as bocas. A boca do dia soltando sopas de letrinhas ou furiosas maiúsculas, a boca da noite em sopa rubra em prestações mensais, branca de prazer ou de piscina estourada de neném. Pois que mortal é a enxurrada da boca da alma: os olhos molhados fixos em ti. Esse ser deslizante, ora fúria ora além, às vezes fora de hora, trafega entre os abutres com os olhos no céu e as pedras do chão dominadas. Até porque nada tem a explicar; tal qual predadores.

Comentários

Ivo de Souza disse…
Bem surrealista. E experimental. Ótimo fluxo de imagens e associações insólitas. Parece um sonho. Desenvolva mais este teu lado inconsciente. Ou deixe que ele se desenvolva por si próprio. Abs.

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