Sentei na mureta da praça e, pela primeira vez depois que saí do prédio, levantei o queixo para a estátua úmida e dura como o meu coração. A sensação era igual a de abrir os olhos pela manhã: nada. Havia uma névoa torpe nos meus passos. Coisa estranha. O nada vem acontecendo todos os dias em todos os momentos. Por que continuar se só o limbo aguarda do outro lado da praça? Sempre achei incômodas essas pessoas que passam sorrindo para os próprios chinelos. É um sorriso cheio de prazer íntimo. O interessante é que não têm em comum a idade, a cor, o sexo, só o sorriso abestalhado. Lá vem o maior dos enigmas, a pequena Adriana e sua velha mãe sacrificada. Ela vem saltitando seus pezinhos gordos. Ao contrário dos outros, sorri para as árvores, abraça o pipoqueiro, acena para o mendigo e também para o guarda. Perito algum encontraria vestígios de lágrimas naqueles apaixonantes olhos mongóis. Seus cabelos feitos de nanquim balançavam inquietos. Ela me olhou. Desviei o olhar, sua felicidade me...
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