UM POUCO SOBRE A FÉ
Sou uma mulher de família,
sensível e agnóstica por definição. Falo assim, aos poucos, para não assustar o
leitor na primeira linha. Na verdade sou uma mulher sem religião, coisa que minha
mãe nunca acreditou e sempre me viu como uma verdadeira cristã. Mas o olhar das
mães sobre os filhos é tão insuspeito quanto inconfiável.
Ser agnóstica para mim não foi
uma escolha, foi uma consequência natural de um raciocínio lógico. Nunca
levantei a bandeira do ateísmo, porque não nego a existência de Deus, eu ignoro
sua existência, não faz diferença na minha vida. Simples assim. Esta posição
tem uma consequência: um profundo respeito pelo ser humano, os animais e este
planeta. Acredito que só tenho esta vida de mamífera para viver, meus atos e palavras
terão efeitos imediatos, sem milhagens celestes ou infernais. Exatamente
por isso admiro profundamente quem tem fé em Deus, invejo até, quem cultiva tão
singela virtude. Quem a tem vence obstáculo mais rápido, resolve quebra-cabeças
sem consultar o fundo da caixa, não precisa gastar rios de dinheiro com terapia
e, se perder as chaves basta três pulinhos e uma prece rápida para São
Longuinho e está tudo resolvido. Quem tem fé tem o dom de se perdoar, logo se
dá ao direito de errar mais.
Não é tão simples assim. A fé é
mais complexa do que sua ausência. A fé exige mais comprometimento consigo
mesmo e com seus valores. Ao menos deveria ser assim. Partindo deste princípio e conhecendo muita
gente de fé que honra sua crença com sabedoria e bondade, fico aqui cutucando
meus neurônios sem encontrar resposta para a seguinte questão: Por que a
humanidade insiste em fazer da religião seu maior instrumento de maldade,
traindo a própria fé despudoradamente? Por que não podemos viver em paz sem impor
nossos dogmas aos demais? Por que eu não posso ser sua amiga?
Lembrem-se, mamíferos.
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