Figurinha repetida


- Abre esta porta, Rufinho, ou eu vou arrombar!

- Pô, mãe...tô quase dormindo...

- Não enrola. Sei que você está na internet falando besteira. Já entrei no chat, sou a Rosinha-só-amor e você é o Rufão-furador.

- Porra, mãe, respeita a minha privacidade.

- Privacidade é o cacete, você só tem treze anos. Abre a porta agora ou eu cancelo a internet.

- Chamou, mamãe?

- Desliga. Agora.

- Deixa só eu terminar esse papo...

- Está marcando encontro com quem?

- Com o Gustavão-do-álbum-da-Copa prá trocar figurinha.

- É pedófilo.

- Para, mãe, que saco. Tô marcando na Praça de Alimentação do Shopping, às quatro da tarde. Deixa de neura.

- Eu vou contigo.

- É ruim de eu pagar esse mico.

- Eu pago o dobro para pegar esse pervertido. E vou levar a polícia.

- Ih...tô fora.

Flagrante preparado, polícia disfarçada na escuta, mãe resoluta esperando. Quatro, quatro e quinze e vinte e trinta e nada. A mãe percebe uma mulher na mesa ao lado com cara de ódio profundo agarrada a um álbum da Copa. Arrisca:

- Gustavão?

- Rufão?

- Não me entenda mal. Sou a mãe.

- Eu também.

- Tem repetida?

- Aos montes!

Comentários

Luisa disse…
Adorei! Muito fácil me identificar com essa paranóia de mãe - e com o álbum da Copa... rs. Parabéns pelo blog Catarina, adorei seus textos. Um beijo, Luisa (do LH :) )

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