Amiguinhas de cortina

Sebastiana ficou tonta, não falava coisa com coisa e quando esqueceu que levantou para fazer xixi e foi beber água, percebeu que era hora de procurar ajuda. Em frente à porta da Emergência, uma placa com desenho de caveira alerta: “Perigo de vida – Alta tensão”. Não deu outra, foi parar no CTI. Sebastiana não conseguia dormir com todos aqueles fios, agulhas e sons estranhos. Ao lado de seu leito uma gaveta metálica escrito “expurgo” onde vira e mexe alguém jogava coisas dentro. Gente de branco chegava, olhava os monitores por trás de Sebastiana e soltava a enigmática palavra “basal”. Tédio. Tratou de arrumar quatro amiguinhas – elas não sabem, mas são -: a misteriosa Senhora Ruth que fica fora do alcance das vistas, num lugarzinho exclusivo, muita gente entrando e saindo. Talvez seja mãe judia e rica, digna, sofre em silêncio ou está em coma profundo mesmo. A vizinha de cortina é a tia Zulmira, que só geme. Stanislaw Ponte Preta ficaria, se pudesse, chocado em saber que sua querida personagem padece de uma pneumonia vinda de Muriaé, Macaé ou não se sabe mais de onde ela é.
Na madrugada Sebastiana conheceu as outras duas companheiras de monitoramento. De tempos em tempos, Dona Paulina chama “Maria! Maria! Tô com frio” e a outra paciente, coincidência ou não, Dona Maria, responde lá do outro lado do salão “Calor, calor!”.
O enfermeiro Carlos, responsável pelo bem-estar das cinco almas, confere o cobertor de Dona Paulina, sussurra algo em seu ouvido e acaricia seus cabelos. Repete o gesto com Dona Maria; com um olho nas luzes barulhentas dos aparelhos e outro no puro delírio antisséptico.
Comentários
my
Bjs
Que Deus nos dê saúde!
Sou amiga da Dani Neiva, gostei muito dos seus textos.
Abs.