Um brinde ao medo

Os mais céticos temem o semelhante,
que tudo pode, pode matar, roubar, torturar, humilhar, estuprar e apaixonar. Conheço
quem tema que o telefone toque ou que não toque jamais. Há o terror puro de não
levantar ou de derramar o leite antes da fervura. Medo da solidão do silêncio
ou sua ausência infinita. Medo da frieza da lagartixa na pele ou de ficar feia
como a lagartixa. Medo de carro, moto, bicicleta, velocípede, avião e qualquer
veículo, inclusive de comunicação. Medo de rede de pesca, de dormir, rede
social e de intrigas. Medo rural de raios e urbano dos raios que nos partam no
trabalho ou na encruzilhada, do são e do insano, da doença sã e da saudável
insanidade. Medo de andar nas calçadas, da topada, dos bueiros que voam e dos
que engolem gente nas tempestades. Medo do vizinho doido, da síndica sádica e
da fatura atrasada. Medo de ser traído e horror de ser descoberto em traição.
Medo da perda e do ganho, da fé ou de perdê-la entre um medo e outro. Pavor da
mentira própria e alheia.
Eu, em meus melhores dias, temo que todos esses medos nos
faltem e nos desamparem nos difíceis momentos de coragem.
Comentários
Beijo.
SAMMY
Vim pela indicação que a amiga Sylvia Regina fez no Face, e gostei;
um grande abraço, carioca
Um grande beijo
my