Senhor, sua assinatura não confere



Seu Antônio, Contador de relativo renome entre os pequenos comerciantes da zona norte do Rio, tem como principais clientes os portugueses donos de botecos. Organizadíssimo, mantém fichas amareladas com dados contábeis e emite relatórios inquestionáveis em sua máquina de escrever manual desde 1971.

Parte dos serviços contábeis é pago com generosas rodadas de cerveja no fim de cada tarde, quando Seu Antônio sai do escritório e pendura o paletó na cadeira do bar e guarda a gravata no bolso. Eventualmente consome no bar mais do que possui de crédito laboral. Lá pelas tantas passa o cheque psicografado pelo anjo da guarda e volta para casa limpando parede com o ombro.

Mesmo com todo o apoio celestial, os cheques começaram a voltar; não por falta de fundos e sim por divergência na assinatura. O Contador, indignado com a humilhação imposta pelo Banco, reclamou tal bandeira despregada, ameaçou encerrar a conta, processar por danos morais; o que não adiantou absolutamente nada. O nome do homem continuava sendo manchado nas mesas dos mais tradicionais botequins da cidade.

Um dia acordou inspirado. Não foi para o escritório e sim direto para o bar. Tomou todas até o meio-dia. Na hora de pagar a conta disse que iria ao Banco e voltava já. Entrou na agência bancária visivelmente chapado. Sentou diante da gerente e sentenciou:

- Traz aí de saideira um cartão de autógrafo que eu quero renovar minha assinatura. Quero ver se agora vocês não reconhecem essa merda!

Comentários

Haha! Ótima crônica! Viva Catarina! Bjs.
Adorei Catarina... Garanto que agoro nenhum cheque volta, rsrsrs
Bjs e sucesso!
Unknown disse…
Como sempre muito bom e com um final inusitado. Bjs, Marília

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