Crime seriado



- O senhor confirma a compra no valor de U$ 3.500,00 na loja Sexy Shop Baby em Nova Iorque?
- Não! Não confirmo! Eu já falei que não fui eu! Nem passaporte eu tenho e minhas milhas não dão direito a tele-transporte.
- Estaremos estornando o valor na próxima fatura.
- E os juros também porque eu não vou pagar essa conta.
- Sim, senhor. Por favor, anote o número do protocolo.
Nossa, que dia! Quem será agora?
- Aaaalô!
- Por que você me mandou este e.mail?
- Como?
- Eu não gosto desse negócio de pornografia infantil. Você está doido ou se fazendo? Ainda por cima para o email do meu trabalho. Tarado! Idiota!
- O que é isso Pedro? Está me estranhando? Eu não te mandei nada e muito menos...
- Olha, eu não quero nem saber. Tire meu nome de sua lista e não me ligue mais ou eu te denuncio.
- Espera um pouco. Não fui eu. Eu jamais...
Pipipipi...
Essa agora. Clonaram meu email também. Vou cancelar essa porcaria agora mesmo. Senha não confere? Caramba! Vou à polícia logo.
- Quero registrar uma queixa: Clonaram meus cartões de crédito e estão usando o meu email para divulgar pornografia infantil.
- O senhor é casado? Tem namorada?
- Não, não.
- O senhor teria emprestado os cartões para algum amigo íntimo?
- Não. E eu não sou gay.
- O senhor sofreu abuso sexual na infância?
- Não! Claro que não! Eu fui roubado! Provavelmente na internet. Sei lá.
- O senhor não se lembra. Então bebe ou usa drogas?
- Drogas? Não. Às vezes bebo.
- Entendi. O senhor deu os cartões e senhas quando estava bêbado.
- Não! Caro inspetor, eu só quero fazer o B.O. Aqui está minha carteira de motorista.
- Senhor, aqui consta que o senhor se envolveu em um acidente hoje pela manhã.
- Impossível. Passei a manhã no telefone bloqueando cartões. O carro ficou na garagem e está lá até agora. Que acidente?
- O seu veículo bateu em um poste na Avenida das Américas e foi abandonado no local.
- Menos mal. Eu tenho seguro.
- Mas tinha dois meninos estrangulados na mala do carro.
- O quê? Roubaram o meu carro para uma desova?
- Aha... O senhor trabalha numa loja de brinquedos...
- Sim. Sou o gerente.
- O senhor parece nervoso...
- Nervoso? Eu estou tremendo! Não é todo dia que jogam crianças mortas no meu carro!
- O senhor quer um copo de água?
- Por favor. Obrigada. Ei? Por que você está guardando o copo que usei nesse saco plástico?
- Digitais. O senhor está preso para averiguações. Tudo que disser poderá...
Acordou coberto de suor na fria madrugada de maio. Catou o controle remoto entre as cobertas e, antes de desligar a TV, teve uma sensação de estranha: o seriado que dormira assistindo às 22 horas reprisava na madrugada exatamente no ponto em que dormiu.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Porque o inferno se perdeu

Nascemos vazios

Uma luva vermelha em Porto Alegre