Uns e Outros

Outro sentou com as pernas abertas, guardou a ponta da gravata no bolso e pôs-se a devorar um cachorro-quente no banco da praça. Na segunda abocanhada viu Um olhando comprido para o sanduíche. Outro ofereceu. Um sorriu. Outro pediu para Um um x-com-tudo-dentro e uma coca. Um ao lado do outro, com uma mão equilibravam a refeição, com a outra mantinham em segurança seus pertences: Outro, a pasta de couro, Um, o saco de amendoim. Comeram em silêncio. Depois, ficaram ali olhando os pés um do outro e se limpando. Um ofereceu amendoim. Outro aceitou uma prova por simpatia. O gato de rua parou entre Um e Outro e ficou. Embolou oferecendo a barriga, pulou no pé de Um e puxou o cadarço de Outro. Riram. Outro perguntou se Um queria o gato. Um queria, mas não poderia cuidar, pois a mãe não gosta de bicho. No entanto, sabia Um, um dia seria veterinário. Outro falou que, embora gostasse muito de gato, não tinha tempo para cuidar do bichano; viajava muito; morava sozinho. Um se ofereceu para cuidar do bicho na casa de Outro. Entendia de ração, caixa-de-areia, corte de unha e limpava tudo muito bem. Fora auxiliar geral numa veterinária, mas ela falira. Foi quando começou a vender amendoim para voltar um dia a estudar. Oitava série. Outro perguntou a Um se aceitaria um salário para cuidar do gato. Mas teria que manter tudo limpo, não vender mais amendoim na noite e continuar estudando para ser veterinário. Afinal, alguém tem de cuidar deste gato.
Um pegou o gato no colo. Outro pagou a conta.
E por causa de uns e outros, o mundo vai ficando melhor.
Comentários
YvanioDaKunha | Email | Homepage | 22-04-2008 19:08:07
Catarina, Você é demais. Se houvessem mais Catarinas no mundo, ia até estragar de tão bom. Beijos. Sylvia
Sylvia Regina Marin | Email | Homepage | 01-04-2008 17:40:11