Dia de centopéia

O passa-tempo urbano predileto dos desocupados da praça São Salvador é assistir o estresse instalado no engarrafamento que se forma quando o ônibus 401 não consegue fazer a curva estreita em frente a farmácia porque tem um carro estacionado na esquina.
Todo mundo já conhece o desenrolar dos acontecimentos: o ônibus pára, as buzinas começam e, mais ou menos cinco minutos de orquestra depois, o motorista do carro chega apressado, é vaiado e sai cantando pneu. Todos riem e o trânsito volta a fluir.
Hoje não foi assim. O babaca da vez não apareceu. Depois de vinte minutos o engarrafamento já tomava não só a Rua São Salvador, como também a Marquês de Abrantes e a Senador Vergueiro. Perdeu a graça. Soltaram as buzinas e saíram dos carros para analisar o golzinho 1.0 cor de vinho, sujo...No vidro traseiro, um decalque sugestivo escrito “amor”. Em minutos tinha uma multidão em volta do criminoso. Impropérios cabeludos foram emitidos e começaram a chutar os pneus e a bater no capô. O pior é esperado como óbvio.
Bem, não sei se por ser um gol tão simpático ou pela índole anárquica do carioca, duas grandes centopéias abraçaram o pequeno e num um-dois-três-e-já o ergueram lentamente até a calçada.
Urras! Vivas! Palmas! Uh-ru!
O trânsito voltou a fluir e o evento entrou para os anais folclóricos do bairro.
Assunto para um ano.
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