A lógica no altar



Maria não acredita em azar ou sorte. Jamais se benzeu diante de igreja ou despacho, nem tão pouco carrega nos ossos fé em Deus ou no Diabo. Os anos forjaram sua personalidade pautada na lógica e na determinação.
Hoje Maria viu a probabilidade de um por cento dar errado acontecer. Falhara nos cálculos, no projeto ou na execução. Talvez estivesse equivocada quanto ao objeto ou ao método inapropriado. Mas a verdade era uma só: fora derrotada e seus últimos cartuchos foram disparados naquele investimento. Sem que ninguém a atrapalhasse, meteu os pés pelas mãos, julgara mal as pessoas, fizera escolhas erradas e só existe um culpado: ela mesma. Não poderia culpar o azar do Diabo e nem pedir sorte a Deus.
Saiu caminhando sem rumo pela rua e viu-se entrando na Igreja da Glória. O silêncio e a escuridão pesavam seus passos. Sentou diante do altar e chorou copiosamente. Chamou baixinho pela mãe e uniu as mãos em suplica. Tremia. Pensou em se ajoelhar, entretanto olhou para os vitrais e nada viu além de lindos vidros coloridos. Recobrou a lucidez a tempo de enxugar as lágrimas na barra do vestido.
Sorriu ao se imaginar começando tudo de novo. Virou as costas para o altar e caminhou para a saída sem olhar para trás.

Comentários

Adorei!
Simples, descritivo e tocante.
Muito bom o seu blog, tanto os textos quanto as imagens.

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